Grão


A cultura do grão de bico tem alguma tradição no nosso país, ao ponto de há uns anos atrás ser uma das culturas com mais expressão no Alentejo, no entanto com o passar dos anos perdeu praticamente toda a sua expressão. É uma cultura bastante rústica e perfeitamente adaptada ao clima mediterrâneo, clima com uma elevada irregularidade ao longo dos anos. Ao mesmo tempo, é uma cultura com vantagens agronómicas inquestionáveis e uma excelente opção para incluir numa rotação de culturas.

Portugal é um grande consumidor de grão-de-bico no entanto, e infelizmente, quase 80% é importado.

A HISTÓRIA DO GRÃO
 
O grão-de-bico tem a sua origem no Médio Oriente, região do mundo onde as mais variadas culturas alimentares ainda confiam extraordinariamente nesta leguminosa rica em proteínas.



 O primeiro registo sobre o consumo deste legume remonta a cerca de sete mil anos. O seu cultivo começou na bacia do Mediterrâneo e, posteriormente, espalhou-se para a Índia e para a Etiópia.

O grão-de-bico (garbanzo em espanhol), foi cultivado pelos antigos egípcios, gregos e romanos, sendo muito popular nessas culturas.

 Durante o século XVI, o grão-de-bico alastrou-se até outras regiões subtropicais do mundo, através dos exploradores espanhóis e portugueses, assim como dos índios que emigraram para outros países.

 Hoje, os principais produtores comerciais do grão-de-bico são a Índia, o Paquistão, a Turquia, a Etiópia e o México.
O grão-de-bico, por exemplo, cultiva-se em todos os países mediterrânicos, principalmente em Espanha e no Oriente. Em Itália encontra-se na Calábria, na Apúlia e nas ilhas. Dá-se bem em solos calcários e suporta a secura, mas exige temperaturas elevadas.
 O grão-de-bico actual já não é uma planta espontânea. Pensa-se que o seu centro de origem seja o Próximo Oriente, onde crescem diversas espécies no estado espontâneo. Nada indica que os Egípcios e os Hebreus o tenham aproveitado. Os Gregos, contudo, conheciam-no bem e chamavam-lhe erebinthos, ou brios. A designação erebinthos é mencionada nas obras de Aristófanes e Homero, que, no canto xv da Ilíada, compara as flechas que ressaltam contra o escudo de Menelau com os grãos-de-bico, que, quando são malhados, saltam sobre a eira.
 Teofrasto e Dioscórides chamam-lhe brios, que significa «carneiro», já que, com alguma fantasia, a forma da semente recorda a cabeça de um carneiro. O nome latino da espécie de grão-de-bico mais importante economicamente, Cicer arietinum L., tem o mesmo significado (arietinum, parecido com um carneiro). Para o termo Cicer não se encontrou explicação. Terá uma raiz pré-indo-europeia. Encontramo-lo em Columela, Plínio e Horácio. Este último conta-nos, na passagem dos sátiros (Sátiras, 1/6), onde elogia a sua vida livre e simples, o que jantam quando regressam a casa à noite: alhos-porros, grão-de-bico e tortilha: ad porris et ciceris (…J laganique catinam).
 
Por outro lado, o grão-de-bico não gozava de grande consideração. Talvez o nome cicerón seja um apodo proveniente de cicer. Em Itália ainda é costume comer grão-de-bico no Dia de Defuntos como comida expiatória; é possível que se remonte a um antigo costume de dedicar as lentilhas aos defuntos.

Os Romanos utilizavam o grão-de-bico nas festas florais como nós usamos agora os confeitos. A difusão das lentilhas poderia sugerir que eram autóctones do Mediterrâneo, mas as formas de sementes grandes, que já não crescem no estado espontâneo, vieram da Asia Menor. Nos sedimentos do Neolítico da Europa e da Asia e nas camadas de Hissarlik, ou seja, Tróia, encontraram-se sementes de lentilhas.

 No Egipto já eram cultivadas no ano 3000 a. C., estando representadas nos baixos-relevos do túmulo de Ramsés II, em Tebas (c. 1200 a. C.). Também em sânscrito e persa antigo a lentilha tinha um nome. É muito conhecida a história bíblica da comida com lentilhas de Esaú; provavelmente tratava-se de lentilhas vermelhas de espécies orientais. A David ofereceram-lhe lentilhas no deserto. A Bíblia chama-lhes adaschim, uma palavra que chegou ao árabe quase inalterada.

 Para os Gregos a lentilha era phakos, como Aristófanes lhes chama nas suas comédias. Os Romanos comiam lentilhas quando alguém falecia; Catão ensinava como se deviam cultivar e preparar com vinagre.
 
 Não se encontraram vestígios de feijões na Europa, nem de tempos pré-históricos nem dos históricos. O seu valor nutritivo é muito elevado e é comparável ao da carne. Apesar disso, era considerado um alimento ordinário e de difícil digestão, que «provoca pesadelos, barriga volumosa e gases (Pictro Andrea Mattioli, 1500-1577).

 A história da ervilha é bastante confusa: nos sedimentos do Neolítico só se descobriram algumas sementes pequenas; as camadas da Idade do Bronze forneceram mais achados (entre outros, em Tróia). Nada indica que a ervilha estivesse presente no Egipto e na Palestina bíblica. O actual nome árabe, basilla, é procedente do italiano.

 Pensa-se que as espécies nobres, que podem ter sido formadas por mutação da espécie Pisum elatius Stev., chegaram ao Ocidente com os povos indo-europeus ou por migrações. Os escritores gregos falam de pisos, ou pison, que em latim se transforma em pisum, mas não se tem a certeza se se trata das ervilhas verdadeiras ou de outros legumes, já que estas descrições eram muito imprecisas na Antiguidade.

 Por outro lado, a suposição da origem indo-europeia e provavelmente do Próximo Oriente da ervilha não é coincidente com a afirmação que alguns autores fazem de que na Antiguidade já era cultivada nas costas do mar Negro e no Indostão.

 A excepção do português e do castelhano, as línguas da Europa Ocidental adoptam a denominação latina pisum para a ervilha: em italiano, pisello, em francês, pois, em inglês, pea, e em catalão, peso!.

 As sementes destas plantas, conhecidas como legumes, contém proporcionalmente muitas proteínas, pelo que constituem um complemento ideal dos cereais. Algumas leguminosas dos trópicos e subtrópicos desenvolvem sementes, que, para além das proteínas e glúcidos, são ricas em lipidos, como a soja, de que se obtém um excelente óleo culinário.

Comecemos pelo essencial. O grão-de-bico ou Cicer arietinum L é uma leguminosa com elevado teor de proteínas ao contrário da maioria dos outros vegetais. Ou seja, é uma boa fonte de aminoácidos. Contudo, dois destes aminoácidos (a metionina e a cisteína) estão em falta no grão, impedindo o máximo aproveitamento destes nutrientes pelo organismo. Ora, estes aminoácidos em falta no grão estão presentes nos cereais e complementam-se muito bem. Esta é razão pela qual, em muitos países asiáticos e no mediterrâneo oriental, o grão e os cereais andam de mãos dadas em muitas receitas tradicionais, desde o homus ou falafel com pão pita até ao arroz com grão. Esta é uma forma inteligente de se ultrapassar a escassez de proteína animal, grande consumidora de água e de outros recursos naturais escassos em países de grande densidade populacional.
 Para além da oferta proteica, o grão fornece uma gordura vegetal de grande interesse nutricional embora em quantidade relativamente pequena, pela presença de tocoferóis, esteróis e tocotrienóis com grande capacidade antioxidante. E diversos minerais. Entre eles encontramos o ferro, zinco e o magnésio. Uma taça com 164 gramas de grão cozido com pouco mais de 260 calorias, fornece 26% das necessidades diárias de ferro para um adulto, 20% de magnésio, 14% de potássio, 17% de zinco, 29% de cobre e 84% de manganésio. O grão é também uma interessante fonte vitamínica. A mesma quantidade de grão fornece 13% da tiamina que necessitamos diariamente e 71% do ácido fólico. E ainda abundantes porções de fibra (50 % das necessidades diária por taça). Entre as principais acções fisiológicas atribuídas à fibra encontram-se a manutenção de um adequado funcionamento intestinal e a prevenção e tratamento da obstipação, redução dos níveis plasmáticos de colesterol e a modulação da glicémia.
No grão encontramos ainda diversos compostos químicos de elevado valor nutricional. Entre eles, os carotenóides como B-carotenos, luteína, xantinas e licopenos. E também compostos fenólicos com elevada capacidade antioxidante. Pensa-se que estas substâncias, quando consumidas em quantidades adequadas e de forma regular, podem neutralizar os radicais livres, substâncias químicas envolvidas nas reações de stress oxidativo que afetam as células e que têm sido associadas a diversas doenças crónicas e ao processo de envelhecimento.

 Esta enorme riqueza nutricional tem levado diversos investigadores a apelidar o grão como um superalimento dadas as suas propriedades funcionais. Recorde-se que um alimento pode ser considerado funcional se for demonstrado que “possui um efeito benéfico numa ou em várias funções específicas do organismo, além dos efeitos nutricionais habituais, que seja relevante para a melhoria do estado de saúde e bem-estar, ou para a redução do risco de doença”.
Para além do valor nutricional do grão, a produção deste alimento utiliza pouca água e permite a fixação de azoto atmosférico no solo. A cultura do grão-de-bico leva a uma redução da utilização de fertilizantes azotados, a um aumento da fertilidade e a uma melhoria da estrutura dos solos. A presença do grão e de outra leguminosas nos sistemas agrícolas permite uma gestão mais equilibrada do uso de adubos. E como no fabrico de adubos azotados se recorre a grandes quantidades de petróleo e sendo o teor de nitratos nos aquíferos um grave problema ambiental, a cultura desta planta contribui para a melhoria ambiental. Para se ter ideia do valor ambiental do grão e das leguminosas em geral, para se produzir 1 kg de proteína de feijão são necessários aproximadamente dezoito vezes menos terra, dez vezes menos água, nove vezes menos combustível, doze vezes menos fertilizantes e dez vezes menos pesticidas, em comparação com a produção de 1 kg de proteína proveniente de carne bovina.
O grão-de-bico tem uma maior tolerância à secura, comparativamente com outras espécies anuais mediterrâneas e apresenta produções superiores. Ou seja, utiliza pouca água e, ainda por cima, tem um baixo preço final ao consumidor. Apesar de tudo isto, o grão-de-bico, a primeira leguminosa a ser cultivada pela humanidade, entre o ano 6000 e 7000 a.C. e uma das bases alimentares do homem mediterrânico nos últimos milhares de anos, continua a ser muito pouco consumida e com baixíssima expressão na nossa alimentação diária. Até quando será esquecido?
 
O grão-de-bico, também chamado de gravanço, ervanço, ervilha-de-galinha ou ervilha-de-bengala, é uma leguminosa da família das fabáceas, muito distribuída na Índia e no Mediterrâneo.
 Trata-se de uma planta herbácea, que mede entre 20 e 50 cm de altura, de flores brancas que desenvolvem uma bainha, em cujo interior se encontram 2 ou 3 grãos, no máximo. Os grãos de cores castanho-claras (ou também verde) são arredondados, tendo uma pequena "espora". A sua periodicidade é anual.
 O grão-de-bico é uma leguminosa com importantes qualidades culinárias e nutritivas, sendo rico em proteínas, sais minerais e vitaminas do complexo B. Além disso, devido à grande quantidade de celulose contida na casca, o grão-de-bico estimula o funcionamento dos intestinos.
O grão-de-bico, do ponto de vista nutricional, é um excelente alimento.
 Devido à sua grande quantidade de amido, é usado pelo nosso organismo como fonte de energia. É pobre em água e gorduras, e está isento de colesterol.
 O grão-de-bico é usado para o preparo de uma pasta árabe chamada Homus.
 
Cada 100g de grão contém 6g de fibras, sendo nas sua maioria fibras solúveis, ajudando de uma forma bastante eficaz o nosso organismo a eliminar açúcares, gorduras e o colesterol.
 O ácido fólico pode-se encontrar em doses generosas no grão.
 Vários estudos referem a importância desta leguminosa na prevenção de doenças cardiovasculares, assim como no tratamento de vários tipos de anemia.
 Contém uma generosa quantidade de cálcio, ferro e magnésio, minerais que desempenham funções importantes no nosso organismo.
 Sendo um alimento relativamente barato, oferece uma grande versatilidade na culinária.
 É indispensável numa dieta alimentar equilibrada.
 O grão-de-bico também possui uma grande quantidade de triptofano, utilizado pra produzir serotonina, responsável pela ativação dos centros cerebrais que dão a sensação de bem-estar, satisfação e confiança.